Guriri, domingo de Carnaval. A Ilha fervendo de gente, fervendo de atrações. Tudo sincronizado, as equipes de trabalho cuidando de cada detalhe para que tudo saísse o mais perfeito possível. O prefeito Daniel Santana coordenando pessoalmente os trabalhos, no meio do povo. Tudo ia muito bem até que chegou a banda Guig Guetto. E chegou com uma hora e meia de atraso, praticamente na hora em que deveria estar encerrando o show – uma eternidade para quem espera, para quem foi se divertir, para quem trabalha no fazer a festa acontecer.

A Guig Ghetto, comandada pelo vocalista Falcão, ignorou solenemente quem estava programado para se apresentar no Corredor da Folia, o espaço mais disputado no Espírito Santo neste Carnaval. E na fila, esperando, estavam os tradicionalíssimos blocos Bola Preta e Nostravamus, o cantor Acsão, que fez seu show praticamente todo no meio do povo, e o Bloco Folia Acessível, de longe a iniciativa mais linda do Carnaval, formado por cadeirantes. Estes foram os mais desrespeitados. E já vinham chegando ainda Banda Afrozumba, Bloco Tônutei, MC Carreta, Katrina, DJ’s Paulinho Mattos, Hebert e Chambinho, além de Neto LX.

Mas o excesso de estrelismo da tal da Guig Guetto não parou por aí. A nossa Equipe de Comunicação, que deu muita moral para essa banda com reportagens na divulgação das atrações do Carnaval, durante o show foi impedida de fazer o que mais gosta: fotografar, filmar, reportar, trabalhar! Ficou restrita a um cantinho bem no fundo do trio. Aquele mesmo trio elétrico por onde somente neste Carnaval passaram artistas do naipe de PATRULHA DO SAMBA, LOVE BEAT, IZY MONTEIRO, ACSÃO e NETO LX. E tem muito mais na programação. A Bahia foi muito bem representada em terras capixabas por eles. O mesmo não pode ser dito sobre a Guig Guetto, sua produção e seu vocalista.

O próprio prefeito – a autoridade que estava representando o Município, talvez quem mais se esforçou para fazer em Guriri o maior Carnaval do Espírito Santo e do Extremo-Sul da Bahia, transformando a Ilha numa gigantesca indústria de turismo a céu aberto – também foi ignorado.

Mas como o show tem que continuar, continuou. O cantor Falcão insistiu que queria ficar mais tempo no espaço central do Corredor da Folia, ignorando quem estava contando os minutos para se apresentar – lembrando que estavam na fila esperando a boa vontade da banda. Quando o motorista fez o trio andar, Falcão deu chilique, ameaçou não cantar mais, tentou jogar os foliões contra o prefeito, que deu a resposta em tempo real. E o trio seguiu.

No final, já no ponto final dos trios, Acsão divertia o pessoal do Bloco Folia Acessível, cantando, tirando selfies, animando. A Guig Guetto já havia encerrado o show. E eis que, pow!, ligaram o som do trio em que estavam no máximo e mandaram mais uma música – que ninguém lembra o nome – pelo simples objetivo de afrontar.

No chão, o prefeito Daniel, o cantor Acsão, o Bloco Folia Acessível e seus familiares esperaram a boa vontade dessa banda que veio para divertir, mas contrariou a grande maioria.

O Dicionário nos lembra que gueto é “bairro de uma cidade onde vivem os membros de uma etnia ou outro grupo minoritário, devido a injunções, pressões ou circunstâncias econômicas ou sociais”. Ou seja, onde vive o povo, os humildes, a periferia. Mas não foi isso que a banda representou. Foi o contrário: comandada pelo cantor Falcão, usou o trio elétrico e o Corredor da Folia de Guriri para apresentar a soberba, a arrogância e a completa falta de respeito pelo público que frequenta a Ilha. E parte desse público foi lá para vê-los.

Mas os foliões ganharam um presentaço ainda no domingo de Carnaval. A noite de shows foi fechada pelo baiano Neto LX, cantor mais que consagrado, que encantou e cantou junto com o público.

A Guig Ghetto vai passar, aliás já passou. Guriri, São Mateus e seu público não.

Júnior Eler

Secretário Municipal de Comunicação de São Mateus.